SUNDAY BLOODY SUNDAY
Domingo de manhã tem lá seus encantos. Sono reparador. Fui ver a cor do céu que passou despercebido durante a semana. Logo mais tem aquele almoço caprichado, sem fast food, sem fast em nenhum aspecto. Uma conversa leve, sem pretensão, sem cobranças. Risadas, sorrisos, saudades e os aromas das panelas, tudo misturado, tudo bem temperado. "Está na mesa!". Minha mãe nunca errou um almoço de domingo.
Mas aí tem o domingo depois do almoço. Não sei se acredito em depressão, mas o fato é que me angustiam os domingos depois do almoço. Esse não foi diferente. Não sei se é o trabalho que urge, ruge às seis da manhã do dia seguinte. Não sei se é a saudade do tempo em que compromisso significava acordar e escovar os dentes. Não. Acho que é mesmo aquele vazio existencial default de quem ainda tem tempo para pensar um pouco. Pensar é angustiante... viver, hoje, é rápido... pensar é angustiante. Acabei culpando o domingo, mas coitado...
Tem horas que a gente quer mesmo é se entregar ao tempo. Deixá-lo que nos consuma, que suma conosco, que coloque um ponto final na tirania dos domingos de tarde. O problema estava ali... aquela angústia não me deixava fazer nada. Estava esperando agora ansiosamente pela segunda. O tempo no domingo é relatividade pura. Passa devagar, quase morrendo, slow motion. Certeza que Einstein descobriu a teoria da relatividade num domingo depois do almoço! Certeza! Física... sentia-me como um buraco negro. Naquele momento eu era a anti-matéria, o big bang, sem o bang. Só me restou tomar um banho. Os outros moradores da casa pareciam sofrer também, mas em silêncio.
Arrumei minhas coisas, a roupa, o tênis, o giz. Tudo certinho. Apaguei a luz, me ajeitei na cama e antes de começar a reclamar da segunda (que é, de fato, pior que o domingo depois do almoço), lembrei-me da hora do almoço, das risadas, do céu, da lua, do big bang... e terminei cantarolando baixinho aquela música... Sunday, Bloody Sunday... Sunday, Bloody Sunday... tão eficaz quanto contar carneirinhos, um pouco mórbido é verdade. Sei que minha angústia domingueira não é nada comparada a deles, mas... a gente sempre é o centro do nosso universo, não tem escape...  e que venham as feiras!
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